Quando estreou, Segundo
Sol parecia que vinha com tudo. Com um primeiro mês memorável, de
grandes ganchos e colocações de histórias que prometiam prender o
telespectador até novembro. A trama de um cantor que se aproveitou
da “morte” para ganhar dinheiro e o drama de uma mulher simples
que teve que se separar dos filhos tinham tudo para dar certo, além
de vilões na dose certa. Mas aí veio a segunda fase com situações difíceis de engolir, muitas delas rasas, e história cozinhando para conseguir chegar aos 155 capítulos.
A história de Beto foi
esvaziando aos poucos, e a de Luzia, rodando em círculos. Afinal,
foi presa duas vezes por crimes que não prometeu, além de ter que
ficar se escondendo dos filhos até ser reconhecida. Aliás, o casal
protagonista se escondeu sem ninguém ser reconhecido numa época
em que basta dar um Googgle... Uma pena, já que Giovanna Antonelli,
ótima atriz, viu sua personagem perdendo brilho em situações
fracas e repetitivas.
João Emanuel Carneiro
também já foi melhor em surpreender o público. O autor de “A
Favorita” e “Avenida Brasil” talvez tenha se espelhado na
novela anterior (a péssima “O Outro Lado do Paraíso”, mas
estouro de audiência) para não passar pela crise de audiência pela
qual passou em “A Regra do Jogo”. Aliás, a trama central de
Segundo Sol nem chega aos pés de ARJ.
A trama da família
Athayde tinha tudo para ser destaque, e até foi, mas no caminho para
o final, ficou inverosímel. A história de Roberval, que não sabia
se era bom ou ruim, foi bem durante um tempo, depois.... A doença de
Rochelle – da forma com que apareceu – e o interminável assalto
só serviram para justificar o porquê do final feliz.
A relação incestuosa
de Remy e Karola não chocou nenhum personagem; o trio
Rosa-Ícaro-Valentim teve final incoerente. Por outro lado, a entrada
tardia de Dulce na novela, que agitou as últimas semanas , foi a
saída para que os segredos viessem à tona. A personagem de Renata
Sorrah deveria ter aparecido antes. No quesito humor, Segundo Sol
ficou no meio a meio. Clóvis e Goreti passaram longe.
Laureta, Rmey e Karola no último capítulo. Foto: TV GLOBO/ Reprodução GSHOW
Claro que nem tudo foi
ruim. Pelo contrário. O bom texto de JEC (muito superior à novela
antecessora) é um ponto forte; a direção também, apesar dos
escorregões iniciais, assim como a trilha sonora. Algumas tramas
foram bem desenvolvidas, apesar de não serem novidade, como o drama
de Nice, que ascende na vida após conseguir se desvencilhar do
marido opressor; o assédio sofrido por Maura; a corrupção entre os
poderosos (Severo – Laureta – delegado Viana)...
O elenco, escalado a
dedo, foi primordial para segurar a atenção. Até porque Adriana
Esteves estar bem em cena (a melhor personagem) não é segredo;
Emílio Dantas nada lembrou o bandido Rubinho de “A Força do
Querer”; Debora Secco cresceu e se destacou; Chay Suede também foi
muito bem; e claro, Letícia Colin, que roubou a cena. Não podemos
nos esquecer de Fabrício Boliveira, Odilon Wagner, Roberto Bonfim,
Vladimir Brichta, Fabiula Nascimento e tantos outros. Houve ainda as
boas surpresas de Kelzy Ecard, Claudia Di Moura, Narcival Rubens e os
demais. Todos saíram grandes dos estúdios.
Por fim, Segundo Sol
foi a novela que prometeu esquentar o horário, mas sua temperatura
foi caindo com o passar do tempo e vai terminar bem mais fria. O
ponto positivo: foi superior à antecessora, mas não conseguir isso seria também quase impossível. Que João Emanuel volte mais
inspirado na próxima.
P.S: Esse texto foi escrito antes do último capítulo. Que possamos ter um final menos óbvio e surpreendente.